domingo, 14 de agosto de 2011

Transação II

Olyra humilis Nees
                                                             
Por esses dias estava caminhando em um fragmento em Bela Vista do Paraíso, no norte do Paraná...
Através de uma visão florística grosseira, acreditei que a mata era conservada. Em outras palavras, haviam diversas árvores grandes em tamanho e diâmetro ocupando o dossel do horto, com área de uns 200 hectares, como o guaritá (Astronium graveolens, da família da manga, porém não fornece frutos carnosos) e a peroba rosa (Aspidosperma polyneuron). Obviamente, é muito complexa a determinação do estado de conservação de uma floresta fragmentada. O argumento florístico, utilizado por mim, ou até mesmo o ecológico, através de dados quantitativos, ainda não seriam suficientes, visto que a história desse lugar não foi contada. Nesse  ''era uma vez'' vários distúrbios devem ter ocorrido como queimadas, retirada de árvores, e principalmente, o próprio isolamento da mata, que acarretou a inundação de luz pelo seu interior, e a invasão de espécies não nativas da região.
A planta invasora foi a Tradescantia zebrina, uma erva rasteira que se espalha pelo solo e sobe as árvores, e por onde povoa, poucas espécies, herbáceas, arbustivas ou ''filhotes de árvores (plântulas) conseguem sobreviver.
Por outro lado, no chão da mata, as espécies herbáceas nativas também me chamaram atenção. Predominantemente eram os bambus herbáceos (sim, bambus não são definidos como ''gramas lenhosas'') do gênero Olyra e Parodiolyra que habitam essa camada. E como notado pelo meu querido colega Miguel, havia poucos arbustos dafamília Rubiaceae (família do café), sendo essa família notável nas nossas matas (o Miguel estuda essa família).
Afinal, poucas primas do café e muitos bambus molinhos.
Os bambus precisam de vento para dispersar o pólen e assim se reproduzirem. No interior da mata, isso deve ser um pouco complicado.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Transação I

Formiga numa grande ''floresta'' de Peperomia circinnata Link
                                    
Por esses dias, da janela do ônibus, vi que vale muito a pena prestramos atenção na nossa paisagem paranaense. Um cenário onde se misturam matas pequenas e plantações, mas que com um pouco de experiência, o que eram apenas colinas com tapetes verdes, amarelos e árvores agrupadas cedem lugar a uma mosaico onde cada copa, cada plantação tem sua identidade. Ao notar numa capoeira, um jangadeiro (Heliocarpus popayanensis ), com frutos castanhos esperando que o vento os levem para novas colinas, quiçá planaltos, em meio a algumas outras árvores que muitas vezes só sabemos a qual família pertecem, nos irradiam de euforia e melancolia. E fico digerindo inutilmente, como a foi saga botânica na bacia do Paraná, dos tempos desérticos mesozóicos até as reinações das perobas rosas (Aspidosperma polyneuron ), cedros (Cedrea fissilis ), angicos (Anadenanthera colubrina ), farinhas seca (Albizia edwallii ), figueiras brancas (Ficus eximia ) a perder de vista, e uma recente convivência com novas espécies de regiões muito distantes, convivência só permitida por um grupo de seres bípedes de muito distante também. Seria com certeza a nossa maior epopeia, nossa história mais preciosa se fosse totalmente revelada, mas também de todo não essencial.