domingo, 18 de setembro de 2011

Transação IV

Um dia desses fomos visitar uma mata em Lupionópolis, quase próxima ao rio Paranapanema, divisa com o estado de São Paulo. Se na base para o topo dos morros na Serra do cadeado (transação III), divisa entre os Segundo e o Terceiro Planalto do Paraná, o arenito cede lugar ao basalto, que por sua vez se estenderá por boa parte desse último planalto, nessa nova região, a situação se inverte. O basalto da Serra Geral serve de base para um arenito mais recente, que eu achava que era o Caiuá, mas na verdade é o pertecente à formação Santo Anastácio.
Ou seja, da serra do cadeado até Lupionópolis ocorre um deixar a fita correr ao longo do final da era Paleozóica até meados da Mesozóica, compreendendo os períodos do Permiano até meados do Cretáceo.
Formações geológicas da Serra do Cadeado, (retângulo azul) e de Lupionópolis (retângulo vermelho). Observe os períodos e as idades (em milhões de anos, m.a.) quando se originaram essas formações. Fonte: Mineropar.


Isso influencia na flora?
Sim, com certeza.
Obviamente, não ocorre uma fenômeno de isolamento de floras para cada formação geológica correspondente, mas as rochas se decompõe em solos, e solos sim são excelentes fatores que permitem ou não a propagação de espécies, arbóreas ou não Por exemplo, não vimos nessa mata o palmito (Euterpe edulis Mart.), mesmo próximo de um córrego, como observado por Maack há cinquenta anos atrás (um dia podemos falar desse homem que tanto admiro).
A mata de Lupionópolis, além de não estar sobre terra roxa derivada de basalto, era muita mais seca. Num trecho no interior do fragmento era possível ver um cacto arbóreo. Mas realmente o que chamava atenção eram as trepadeiras. Haviam muitas delas. Como um indíviduo do gênero Tetracera  (visto pelo fabuloso Ed, o guia de campo de imensa sabedoria) que não tinha sido catalogada na Mata dos Godoy, mais ao sul e sobre terras basálticas.

sábado, 3 de setembro de 2011

Transação III

Topo do morro das Antenas, campo de altitude onde se notam blocos de arenitos e inflorescências avermelhadas de Dyckia dusenii L.B.Sm.. Foto de Miguel Ferreira Jr.
 
Em um dia desses subimos, eu e o meu amigo botânico Miguel, o Morro das Antenas na Serra do Cadeado, na divisa entre o segundo e o terceiro planalto do Paraná. Nós queríamos conhecer os campos de altitude da região, já que até então só visitáramos florestas. A subida do morro foi bastante tranquila, não íngreme, através de uma estrada de cimento, utilizada pelos funcionários da manutenção das diversas antenas fincadas no topo. A primeira observação era de tapetes de gramíneas nativas, nas quais não faço ideia alguma de quantas espécies as compõe, e muito menos os gêneros que predominam ali. Mas se já é fantástico observar que as gramas nativas são bastante diferentes dessas plantadas nas regiões baixas de Londrina, imagine então compará-las com aquelas de florestas mesmo aquelas com ''cara de grama" como Ichnanthus e Oplismenus. Interessante, que apesar desse grupo dominar os campos, muitas vezes é pouco catalogado. Por exemplo, eu e o Miguelito fizemos um levantamento florístico do Canyon Guartelá, uma grande área de ocorrência de campo natural do Paraná. Mas para nossa surpresa, os registros de gramíneas no acervo do Herbário da UEL para aquela área eram de apenas duas espécies.
Mas nem só de gramas os campos são feitos. Outras famílias colonizaram o topo do Morro das Antenas: nas áreas de solo raso, bromeliáceas representadas por uma população de Dyckia dusenii L.B.Sm., com rosetas espinhentas e flores de pétalas amarelas ligadas em um escapo (pendão) vermelho.  Estas bromélias são endêmicas de campos secos de picos de morros do Paraná e Santa Catarina, ou seja, por viverem em um ambiente naturalmente descontínuo, é necessário preservar esses lugares, que infelizmente, no morro do Mulato, um pedaço dessa vegetação deu lugar para uma ''pista'' de parapente. Além de bromélias e gramas, vivem lá Gaylussacia brasiliensis (Spreng.) Meisn., uma espécie de ericácea com pequenas flores róseas urceoladas, além de Chamaecrista cathartica, uma leguminosa cesalpinoídea arbustiva com folhas bastantes aderentes, e belas selaginelas nas áreas de afloramentos rochosos, que acredito eu, são arenitos brancos e ferrugíneos da formação Pirambóia, nas áreas mais baixas do morro, e no topo, não sei, as rochas eram diferentes, mais escuras, entre outras características que não consigo lembrar, mas acredito que sejam também da mesma formação, embora nessa região a tendência é que as rochas da base do relevo sejam arenitos da formação Rio do Rastro e Pirambóia e que são ''cobertos'' pelo basalto da formação Serra Geral no topo. Mas, voltando às plantas, para decepção do Miguel, não haviam rubiáceas naquelas bandas.

Vista do Morro das Antenas, com floresta de transição entre estacional e ombrófila. Foto de Miguel Ferreira Júnior.
                                                                
                                   
Gaylussacia brasiliensis Spreng. (Meisn.). Foto de Miguel Ferreira Jr.        
Inflorescência da bromeliácea (monocotiledônea) Dyckia dusenii L.B.Sm. no topo do Morro das Antenas. Essa espécie ocorre no Paraná e Santa Catarina. Foto de Miguel Ferreira Jr.