sábado, 3 de setembro de 2011

Transação III

Topo do morro das Antenas, campo de altitude onde se notam blocos de arenitos e inflorescências avermelhadas de Dyckia dusenii L.B.Sm.. Foto de Miguel Ferreira Jr.
 
Em um dia desses subimos, eu e o meu amigo botânico Miguel, o Morro das Antenas na Serra do Cadeado, na divisa entre o segundo e o terceiro planalto do Paraná. Nós queríamos conhecer os campos de altitude da região, já que até então só visitáramos florestas. A subida do morro foi bastante tranquila, não íngreme, através de uma estrada de cimento, utilizada pelos funcionários da manutenção das diversas antenas fincadas no topo. A primeira observação era de tapetes de gramíneas nativas, nas quais não faço ideia alguma de quantas espécies as compõe, e muito menos os gêneros que predominam ali. Mas se já é fantástico observar que as gramas nativas são bastante diferentes dessas plantadas nas regiões baixas de Londrina, imagine então compará-las com aquelas de florestas mesmo aquelas com ''cara de grama" como Ichnanthus e Oplismenus. Interessante, que apesar desse grupo dominar os campos, muitas vezes é pouco catalogado. Por exemplo, eu e o Miguelito fizemos um levantamento florístico do Canyon Guartelá, uma grande área de ocorrência de campo natural do Paraná. Mas para nossa surpresa, os registros de gramíneas no acervo do Herbário da UEL para aquela área eram de apenas duas espécies.
Mas nem só de gramas os campos são feitos. Outras famílias colonizaram o topo do Morro das Antenas: nas áreas de solo raso, bromeliáceas representadas por uma população de Dyckia dusenii L.B.Sm., com rosetas espinhentas e flores de pétalas amarelas ligadas em um escapo (pendão) vermelho.  Estas bromélias são endêmicas de campos secos de picos de morros do Paraná e Santa Catarina, ou seja, por viverem em um ambiente naturalmente descontínuo, é necessário preservar esses lugares, que infelizmente, no morro do Mulato, um pedaço dessa vegetação deu lugar para uma ''pista'' de parapente. Além de bromélias e gramas, vivem lá Gaylussacia brasiliensis (Spreng.) Meisn., uma espécie de ericácea com pequenas flores róseas urceoladas, além de Chamaecrista cathartica, uma leguminosa cesalpinoídea arbustiva com folhas bastantes aderentes, e belas selaginelas nas áreas de afloramentos rochosos, que acredito eu, são arenitos brancos e ferrugíneos da formação Pirambóia, nas áreas mais baixas do morro, e no topo, não sei, as rochas eram diferentes, mais escuras, entre outras características que não consigo lembrar, mas acredito que sejam também da mesma formação, embora nessa região a tendência é que as rochas da base do relevo sejam arenitos da formação Rio do Rastro e Pirambóia e que são ''cobertos'' pelo basalto da formação Serra Geral no topo. Mas, voltando às plantas, para decepção do Miguel, não haviam rubiáceas naquelas bandas.

Vista do Morro das Antenas, com floresta de transição entre estacional e ombrófila. Foto de Miguel Ferreira Júnior.
                                                                
                                   
Gaylussacia brasiliensis Spreng. (Meisn.). Foto de Miguel Ferreira Jr.        
Inflorescência da bromeliácea (monocotiledônea) Dyckia dusenii L.B.Sm. no topo do Morro das Antenas. Essa espécie ocorre no Paraná e Santa Catarina. Foto de Miguel Ferreira Jr.
                                                                      

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