sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Transação V


Um belo indivíduo de Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze em interior de floresta.
                        
Num dia desses fomos andar em uma mata de transição entre ombrófila mista, mais comum nos Primeiro e Segundo planaltos do estado, e estacional semidecidual, mais comum no Terceiro planalto. Ou seja, uma região onde plantas, principalmente arbóreas, de planaltos com diferenças na pluviosidade e altitude se encontram.  Mas o interessante, que o primeiro tipo de mata aparentemente prevalece, por causa da altitude e latitude também, afinal, estávamos na região da Serra do Cadeado, nas divisas entre o segundo e o terceiro planaltos do Paraná.
Evidências para isso?
Quanto ao estrato arbóreo, grandes indivíduos de Araucaria angutifolia (Bertol.) Kuntze(família Araucariaceae) estavam preservados, tanto no interior quanto na borda da mata, sendo que um deles estava com estróbilos masculinos facilmente acessíveis, já que seu grande galho cresceu em direção ao solo. Chamou atenção também dois enormes sobreviventes indivíduos de Sloanea lasiocoma K.Schum.** (família Elaeocarpaceae), com o nome popular de sapopema com muitas, muitas epífitas ( , além de indivíduos de angico Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan (família Leguminosae subfamília Mimosoideae), sendo esta última comum em um estudo de descrição da flora de dois fragmentos de mata próximos.
No interior da mata, próximos ao riachinho, haviam também quatro grandes indivíduos de Dicksonia sellowiana Hook. (família Dicksoniaceae), samambaias arbóreas conhecidas por xaxim, com certeza sobreviventes do avanço da destruição desse tipo floresta no estado, além de sua exploração para substrato de plantio. Taquaras (gênero Chusquea, família Poaceae) em certos pontos se aglomeravam  ao ponto de que, quando se caminhava em meio aos seus colmos e folhas, surgia a sensação de se estar num túnel. Também haviam no subosque, diversos indivíduos de Cordyline spectabilis Kunth & Bouché (guaraíva, família Asparagaceae), uma da poucas monocotiledôneas lenhosas nativas da região (excetuando as palmeiras claro), e são muito bonitas. Já no solo, me recordo de ver muitas ervas do gênero Rubus (família Rosaceae), mas estavam sem flores nem frutos, então não posso arriscar identificar como espécie, além de diversas samambaias. Quanto aos arbustos, haviam num ponto, próximo à borda, um grande agregado de Justicia carnea (família Acanthaceae) com suas esplêndidas inflorescências, onde flores róseas tubulosas e bilabiadas se agrupavam numa espécie  de ''cabeça''  (esses arbustos ocorrem tanto na floresta estacional quanto floresta ombrófila mista, e é a primeira vez que vi indivíduos agregados desta espécie).

Sloanea lasiocoma K.Schum., com ramos cobertos por epífitas que sobrevivem por causa de uma maior umidade atmosférica na região. Esse cenário é bem mais raro ao norte de onde essa árvore foi fotografada, onde a floresta estacional predomina.
Samambaias arbóreas ( Dicksonia sellowiana Hook.).
Um agregado de indivíduos Justicia carnea Lindl. com inflorescências.

Inflorescência (tirso) de Justicia carnea Lindl.. Foto de Miguel Ferreira Jr.
Epífitas são muito comuns nessa região, principalmente da família Bromeliaceae, principalmente aquela cuja arquitetura foliar forma um tanque, visando reter água. Em florestas estacionais semideciduais mais ao norte em pleno terceiro planlto, bromélias com essa arquitetura são mais raras.
Bromélias em Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze
                                       
Bromélia do gênero Vriesea em Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze
              ** Eu achava que essa espécie ocorresse, no Paraná, preferencialmente em floresta ombrófila em relação à floresta estacional, onde Sloanea hirsuta (Schott) Planck. ex Benth. seria mais comum, mas tive uma surpresa ao ler uma revisão deste gênero, descobrindo que na verdade, S. lasiocoma ocorre tanto nas florestas ombrófila mista (floresta de Araucária) quanto em floresta estacional, ao passo que S. hirsuta não penetra no interior do estado do Paraná, estando na floresta ombrófila densa (mais próxima do litoral). Ver Sampaio 2009, revisão taxonômica das espécies neotropcais extra-amazônicas  de Sloanea L.(Elaeocarpaceae) na América do Sul, disponível no sistema nou-rau da unicamp.                

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